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Participaram da entrevista: Ana Carolina Santos, Ana Carolina Souza, Ana Caroline Almeida, Beatriz Vianna, Bruna Vilar dos Santos Pereira, Fabiano da Silveira Ferreira, Gabriela Morgado Dias, Gabriel Nacif Paes, Ingrid Mariz, Isabela Meira Aleixo, Kariny Leal, Larissa Infante Hecht, Luciano Ferreira, Lusiane Sousa da Silva, Maria Paula Diniz, Manuela Carpenter, Mariana Martins, Matheus Antonio Fontes Dantas , Mikaell Arthur de M. Pessoa, Paulo Henrique Assad dos Santos, Pedro Aquino Paiva, Priscila Firmino Carneiro, Rafaela Queiroz D'Elia Sampaio, Raiane Cardoso Pinto, Roanna Azevedo Cunha, Stella Sacramento Valverde Soares, Vitória Souza Martins
Foto: Isabela Meira Aleixo
Orientação: Professora Fernanda da Escóssia
Ale chama o presidente da República pelo prenome – Michel – e defende todas as medidas impopulares de um governo com 3% de aprovação. Mais que defender, é ele quem decide quais serão votadas: aos 47 anos, o deputado Rodrigo Maia (DEM-RJ) foi alçado ao posto de presidente da Câmara em meio a uma crise política e tornou-se o dono da pauta de votações na Casa. Não à toa, em uma hora e meia de entrevista a alunos da UFRJ, usou 53 vezes a palavra agenda como síntese do que, em sua opinião, o governo precisa aprovar. Primeiro na linha sucessória do presidente Michel Temer, Maia é repetidamente cogitado como candidato do DEM ao Planalto, e as articulações para sua candidatura vêm crescendo. Em novembro passado, Maia antecipou aos estudantes: sonhar com a Presidência ele sonha, mas diz que não tem votos para isso. Afirma que, para transformar o sonho em realidade, precisa construir uma aliança em torno de seu nome: “Quando a gente aparece com traço, a gente tem sonho, não pretensão”.
Fiador de um governo fraco, Maia é taxativo ao afirmar que não porá em votação outros pedidos de impeachment contra Temer , porque acha que o principal, depois das delações de Joesley Batista, já foi votado. Na Câmara, começou como filho do ex-prefeito do Rio Cesar Maia, cresceu como negociador hábil e se fortalece como um líder de perfil . Defende a privatização de estatais, a reforma da Previdência e o corte de gastos públicos. É contra o casamento gay e adoção de crianças por casais do mesmo sexo: “Não é natural”.
Em novembro de 2017, Maia recebeu no Hotel Guanabara, no Centro do Rio, alunos de Jornalismo Político da Escola de Comunicação da UFRJ, disciplina então lecionada pela professora Fernanda da Escóssia. A seguir, trechos da entrevista:
Eleições
• O senhor disse que todo deputado quer ser presidente da Câmara. O senhor tem pretensão de ser presidente do Brasil?
Rodrigo Maia: Pretensão eu não digo, sonho… Pretensão a gente tem quando a gente aparece na pesquisa com 6, 7, 8%. Quando a gente aparece com traço, a gente tem sonho, não pretensão.
• O senhor gostaria de ser presidente do Brasil?
RM: Tenho sonho, não tenho pretensão. Pretensão posso ter no dia em que eu tiver voto, pelo menos intenção de voto pra me colocar como candidato e tentar construir uma aliança. Se eu tivesse intenção de voto, 6, 7, 8% numa pesquisa, teria as condições de construir uma aliança forte, porque tenho um nível de relacionamento com os partidos políticos de muita confiança dos dois lados, mas não tenho voto pra essa pretensão. Tenho sonho, claro, todo mundo que tá na política tem sonho de crescer. Cheguei até a presidência da Câmara... presidente da República claro que seria um sonho, mas por enquanto, como não tenho voto pra isso, é só um sonho.
• Se o seu nome surgisse como opção de consenso, capaz de unir DEM, PMDB, o senhor toparia?
RM: Sabe o que acontece? Consenso em eleição… Se fosse consenso eu toparia, mas o problema é que nome de consenso aparece quando você tem chance de vitória. Quando você não tem chance de vitória, não há consenso. Porque aí todo mundo acha: “Por que o Rodrigo com 1% é candidato e não eu que tenho 1,5%? Ou eu que tenho 0,5%, qual é a diferença? Ah, o tempo de televisão do DEM é x, o meu é x+20%. Por que vai ser o Rodrigo Maia que vai…” Então, essa equação não se sustenta. Por isso não é relevante eu falar disso, sobre a candidatura a presidente da República. Entendeu? Se eu tivesse 5 ou 6%, estaria trabalhando para me viabilizar com outros partidos, mas acho que não tenho, não terei e acho que não tenho uma agenda… Ao contrário, a agenda que eu tô defendendo é uma agenda árida, que é a Previdência.
• E o governo do Rio?
RM: Não. No Rio, tanto o meu pai quanto o Eduardo Paes, eles têm… Nós temos um grupo. Nenhum dos dois vai conseguir ter em Brasília a força que tenho para ajudar o Rio, e os dois têm toda a condição de ser melhor governador do que eu. O Rio está completamente falido, a reorganização é fundamental, a máquina não funciona… Principalmente o meu pai, que é o melhor gestor público que o Rio tem, mas também o Eduardo, qualquer um dos dois pode realizar o trabalho aqui igual ou melhor do que eu. Em Brasília, nenhum dos dois tem 10% da condição de ajudar o Rio como eu tenho, por isso eu acho que se eu ficar em Brasília ajudo mais o Rio. Construindo a candidatura com um dos dois a gente tem chance de ganhar e reorganizar o Rio muito melhor.
• O senhor disse que apoiaria a candidatura do João Doria para presidente...
RM: Não, eu não disse isso não. O que eu disse é o seguinte: se o DEM não tiver candidato... Eu tava na casa dele, né? Gosto dele, só acho que ninguém consegue correr uma maratona com o ritmo de 100 metros rasos e chegar no final. Falei inclusive isso pra ele. Se o DEM não tiver candidato, e se o Doria for o candidato do PSDB, é um ótimo candidato, certamente pode ter o apoio do DEM. Foi o que eu disse. Bem, eu quero que o DEM tenha candidato e acho que o candidato do PSDB vai ser o Geraldo (Alckmin). Como não temos nome natural, o que estamos fazendo é organizar o partido para ter uma base para, lá na frente, decidir um candidato. Quer seja trazer um candidato, o que acho ruim, ou convencer um dos nossos a ser. Para que a gente tenha candidato ou possa ser um player forte no próximo ano apoiando um candidato, qualquer um que seja, a gente precisa ter uma estrutura pra que a gente possa, se não tiver condição de ter candidato a presidente, ter o vice. Naturalmente, o PSDB… O PSDB é o mais próximo da gente. A candidatura do Geraldo está consolidada em umas três semanas, acho eu, ela vai gerar um pólo. Então quem quiser gerar outro pólo no centro, acho que tem espaço. O Geraldo tem a vantagem de estar em São Paulo, tem a vantagem de ter muita experiência, mas tem a desvantagem porque eu acho que a sociedade está querendo alguém de uma geração anterior à dele.
“Michel”
• A OAB entrou com um pedido de impeachment, que está parado, contra o presidente Michel Temer. O senhor pretende colocar isso para frente?
RM: Já votamos duas denúncias sobre o mesmo tema. Vamos parar o Brasil para votar uma terceira? Na minha cabeça, esse assunto já foi votado. O mérito da OAB é o mesmo do Janot, a delação da JBS. O que tinha de mais forte era a primeira denúncia, que tinha uma delação do dinheiro que o Rodrigo Rocha Loures recebeu com o Michel. Seria irresponsabilidade a gente tratar desse tema novamente. Não sei se tecnicamente, do ponto de vista regimental, eu posso, mas minha vontade regimentalmente é indeferir sem direito a recurso. A política, ainda mais com um governo fraco, é de muita pressão. Tem 18 impeachments, não é só o da OAB, né. Tem 18 pedidos. Como sou o primeiro da linha sucessória hoje, também não me sinto... até conversei outro dia com os advogados, acho que a legislação brasileira, é claro que não vai mudar isso agora, deveria ter previsão do impedimento meu para deferir ou não indeferir impeachment. Porque como sou o beneficiado... ou não, né, porque assumir o Brasil nessas circunstâncias, eu não sei se é beneficiado. Mas como sou o primeiro interessado, talvez eu não tivesse nem condição, acho que eu deveria estar impedido no julgamento.
• Deputado, o senhor recebeu uma mensagem da sua mãe, falando que não conspirasse contra o governo Temer.
RM: Isso.
• Qual a motivação do senhor em apoiar esse presidente que tem 3% de popularidade? Como pretende explicar isso ao seu eleitorado?
RM: Todos que votaram a favor do impeachment da presidente Dilma têm responsabilidade com o atual governo. Todo mundo sabia qual era a agenda que o Michel ia propor. Quando ele sentiu que a Dilma estava muito enfraquecida, no final de 2015, apresentou um documento na agenda econômica, a agenda que eu sempre trabalhei a minha vida inteira na Câmara dos Deputados. Quando votei o impeachment, eu sabia qual era a agenda que vinha para a pauta da Casa. Eu nunca imaginei que pudesse ser presidente da Câmara. Na primeira eleição ele não me ajudou. Acabei construindo com alguns partidos a minha eleição e acabei consolidando com PSDB, PSB, PPS, DEM, PC do B e parte do PT, mas mais PC do B. E PDT. São os seis com que eu construí um número de votos para ir ao segundo turno.
• Aproveitando que o senhor falou da votação do impeachment de Dilma, no seu voto a favor, o senhor afirmou que foi em nome do seu pai e que ele foi atropelado pelo PT. Foi um voto de vingança?
RM: Não, mas quero deixar registrado que – olha como são as coisas – eu fiz esse voto e quem fez a intervenção aqui na saúde (do município do Rio, na segunda gestão de Cesar Maia) foi o José Dirceu. Agora estou com a aposentadoria dele no meu colo para decidir. Olha como são as coisas. Não foi um voto de vingança, mas quero deixar registrado o que a gente passou quando o PT estava superpoderoso porque é importante pra isso ficar registrado. Pro nosso grupo foi importante meu voto daquela forma. Mas não foi voto de vingança. Eu tinha certeza de que a Dilma, além de ter cometido o crime, não tinha mais nenhuma condição de governar o Brasil. Porque o voto, o julgamento político, não é só técnico não. O meu voto foi uma mistura das condições técnicas por óbvio, dos decretos ilegais, das pedaladas, que geraram inclusive muitos desvios, somado a um julgamento político. Era insustentável o governo dela. Ela não tinha mais condições de governar, de forma nenhuma.
• Deputado, o senhor quer o presidente Temer no seu palanque em 2018?
RM: Eu quero a agenda do governo no meu palanque. Não sou do PMDB e não preciso ter o Michel no meu palanque. Agora, a agenda colocada pelo governo é a minha agenda. Defendo mais do que todos eles. Não tenho nem como fugir dessa agenda. Acho que ele não será um ator político na eleição pela rejeição que ele tem, mas a agenda dele está colocada e eu vou ser cobrado pela agenda. Vou defender a agenda. Não tenho nenhum problema em defender a agenda e fazer a crítica em erros que ele cometeu. Cada um tem que responder pelos seus erros e ele vai responder pelos dele.
• Como é a sua relação com Temer?
RM: Muito boa. Tive desavença política com o PMDB. O PMDB, no meio dessa crise toda, estava tentando segurar o crescimento do DEM. O DEM tem 9 deputados agora e depois terá mais 5 deputados que estão vindo pro DEM; de alguma forma, PMDB entrou pra inviabilizar. Eu sabia que eles iam fazer isso. Conheço bem o entorno do Michel e avisei o DEM. Se você não impuser limite à ação do governo apoiando o PMDB, você acaba sendo engolido por eles. Do ponto de vista pessoal, nunca tive problemas, fui correto. Na primeira denúncia até fui surpreendido pela forma agressiva que o entorno do Michel me tratou, achando que eu estava trabalhando para derrubar o Michel e isso não existia. Aí entrou o negócio da minha mãe. Eu nunca fiz um movimento pra tirar o presidente. Como eu era o primeiro da linha sucessória, segurei o DEM pra não sair do governo porque achava que era importante não parecer que eu estava comandando um processo de derrubada do presidente. Eu achava que, se ele tivesse que cair, caísse pelo ambiente. Eu não ia ficar negociando governo em cima de uma denúncia que acho que não cabia. Na primeira denúncia fui um pouco mais ativo exatamente pra não deixar o DEM sair do governo naquele momento. Podia até sair depois. Naquele momento eu achava que, pra mim, era ruim pessoalmente e acho que, para o partido, enfraqueceria minha posição como presidente da Câmara. A minha relação com ele, pessoal, é muito boa. Michel tem um perfil que... ele sempre deixou toda a decisão dele pro último minuto, para os 45 do segundo tempo. Isso acaba, em alguns momentos, gerando estresse em algumas relações. Agora, na hora que vem pra cima do meu projeto político, aí eu… Até porque tô ajudando o governo. Aqui no Rio tínhamos combinado que todas as ações do Rio passariam por uma conversa comigo. Em alguns momentos durante a denúncia ele fez direto. E aí fui cobrar: “Nós tínhamos um combinado aqui, não quero nada, só quero o seguinte, os investimentos do Rio, eu sou do Rio, tô ajudando o governo, quero também que eu tenha o ônus de ser governo e tem que ter o bônus também de poder liderar”.
• Os delatores da Odebrecht disseram que o senhor teria recebido R$ 100 mil. O que que o senhor tem a dizer sobre isso?
RM: O cara fala o que ele quiser. O cara diz que foi no escritório do meu pai, do assessor do meu pai. A gente tinha uma sala juntos em Botafogo em 2008. Meu pai e o João Marcos não vão nessa sala há 10 anos. O que que eu vou fazer? Tá aí o inquérito. Eles vão ter que provar. O homem público tem que saber que isso faz parte, graças a Deus, do cotidiano da sociedade, cabe ao Ministério Público ter todas as condições de avançar. O Ministério Público trabalhou pra criminalizar a política. Ele não trabalhou focado nos casos com prova material já existente pra avançar, entendeu? No meu caso, não vai provar, vai arquivar. O tempo vai provar que não é verdade. Mas quem está na vida pública tem que estar preparado para isso.
Reformas
• Como o senhor encara a reforma da Previdência?
RM: O sistema deveria ser idade mais tempo de serviço, mas criaram uma interpretação no Judiciário que só cabe um dos dois. As pessoas que ganham mais conseguem se aposentar com 25 anos de serviço. Elas se aposentam com 50, 52, 53 anos. Os mais pobres, por terem o trabalho mais precário e sem carteira assinada, não conseguem completar os 25 anos. Na média, um trabalhador mais pobre só consegue cumprir 15 anos de serviço e se aposentar com 65 anos. A reforma veio exatamente cobrir essa sangria. Só que a gente não consegue comunicar isso. A Previdência hoje consome 60% de todos os gastos obrigatórios do governo. A taxa de envelhecimento no Brasil está crescendo de 3,5 a 4% ao ano, enquanto a entrada de novos participantes é de apenas 0,8%. Isso significa que em cinco ou seis anos, 80% de todas as despesas obrigatórias do governo serão previdenciárias. A Previdência está consumindo tudo e vai continuar consumindo. Do ponto de vista político, entrar em uma eleição pra fazer proposta de alguma coisa sem passar pelo obstáculo da Previdência é a política de ir pra eleição mentindo pro eleitor, por isso que eu defendo tanto a reforma da Previdência. Não tem mais espaço pro populismo. Não tem mais espaço pra ficar prometendo o que não tem pra entregar.
• Já tem data para a votação?
RM: Não, porque não tem voto. É uma crise muito grande para eu me livrar do problema de qualquer jeito. Conseguir 308 votos nessa matéria não é tarefa das mais fáceis. E ano que vem será mais difícil ainda. Tem uma pressão, é um jogo meio difícil de coordenar, porque você tem alianças que não são, do ponto de vista ideológico, afinadas nas três esferas, municipal, estadual e federal. Essas distorções no sistema eleitoral brasileiro acabam também atrapalhando um pouquinho a votação. Ano que vem (2018) é mais difícil ainda.
• O senhor defendeu a privatização da Eletrobrás e de outras empresas afirmando que são “cabides de emprego e má gestão”. Que empresas acha que devem ser privatizadas e por quê?
RM: O governo tem centenas de empresas menores que não deveriam existir. Essas efetivamente são só cabides de emprego. A Eletrobrás, não. Acabei generalizando e quando a gente generaliza nunca é bom. Tomo a Vale como exemplo, porque é uma empresa muito grande. O que aconteceu com a Vale, o faturamento, o lucro, a geração de emprego, salário. O governo não vai vender todas as suas ações, vai vender o controle, vai continuar com 40% das ações, para vender numa segunda parte, quando a empresa tiver um valor maior de mercado, e isso é uma estratégia correta. O que muito se critica nas privatizações anteriores é que se vendeu muito barato e o governo perdeu oportunidade de ganhar dinheiro.
• Por que o senhor foi a favor da PEC do Teto dos Gastos?
RM: Você tinha dois caminhos no Brasil. Se você não tem a PEC dos Gastos, você não tem então a necessidade, por exemplo, de votar a Previdência, os gastos orçamentários podem continuar crescendo. Tem uma coisa chamada relação dívida-PIB, de todos os países. É o grande indicador que os investidores no mundo observam, principalmente nos países em desenvolvimento, como o Brasil. A PEC do Teto organiza os gastos públicos. É uma coisa que eu nunca entendi, como é que o Brasil cresceu tanto com o Lula e cada ano que passava a gente comemorava o aumento do número de pessoas no Bolsa Família. Tinha alguma coisa errada, se o Brasil estava ficando mais rico, por que precisava de mais gente no Bolsa Família? Tinha que ser ao contrário: se o Brasil está ficando mais rico, menos pessoas precisam da Bolsa Família. Mas era o contrário porque o Estado brasileiro é isso, o Estado paternalista. O problema nosso é que o Brasil acabou sendo esse gigante que não serve pra muita coisa.
Aborto, maconha, casamento gay
• O senhor declarou que proibir o aborto em caso de estupro não vai passar na Câmara. Qual a sua opinião sobre o aborto?
RM: Tem dois debates aqui: os extremos, que são aqueles que na verdade querem liberar o aborto, e tem aqueles na ultradireita, que não querem aborto pra nada. O que eu digo desde o início: o que está consagrado, está consagrado. O risco da vida à mulher, o anencéfalo e o estupro, isso aqui está consagrado. “Vocês colocarem um marco fora dos temas consagrados não tem problema, agora nós não podemos recuar.” Sobre o texto que foi aprovado, chamei a assessoria da Casa e eles me disseram que não atinge. Muito da polêmica é porque no fundo, no fundo, tem uma parte importante que quer liberar tudo. Essa é a queda de braço. O que estou fazendo: peguei o texto, pedi a dois, três ministros do Supremo com quem tenho relação pessoal, pedi que cada um deles me desse a opinião deles, se aquele texto de fato ele prejudica o que está consagrado ou não. Pedi ao presidente da comissão, um advogado de direita respeitado, um cara muito inteligente, o seguinte: “Ou você vai me dar uma saída pra respeitar o que está consagrado ou eu não tenho condição de votar, porque quem pauta no plenário sou eu”. A gente está tentando construir um texto que possa aprovar, resguardar pelo menos essas três coisas que já estavam consagradas por decisões, inclusive, do Supremo.
• O senhor é a favor da legalização, da descriminalização das drogas?
RM: Sou contra. Vou criar uma comissão especial para discutir a questão da maconha, porque acho que, se a Câmara não fizer, o Supremo vai fazer. Pelo que conheço do dia a dia das comunidades mais carentes do Rio, não acho que a solução passa por liberar a maconha, porque todo mundo fala que a maconha é mais leve e tem o aspecto medicinal. Discordo. A maconha é a porta de entrada das outras drogas mais pesadas e que têm gerado todo esse problema. A solução passa por projetos com foco na juventude que é mais vulnerável a estar, nem consumindo, mas trabalhando para o tráfico de drogas nas comunidades. O governo erra nessa área social. Mas não vejo a liberação da maconha como solução para o problema. Entendo até que a maconha tenha muita pressão para que se faça isso, mas eu de fato não sou a favor.
• Quando o senhor era candidato à prefeitura do Rio em 2012, afirmou que era contra a união homoafetiva e a adoção de crianças por esses casais. Eu queria saber se o senhor continua com esse posicionamento.
RM: Sou contra. O casamento é uma liturgia da igreja cristã, católica e evangélica. Essa é uma disputa desnecessária. A união civil resolve o problema. Duas pessoas do mesmo sexo querem estar juntas: o casamento civil resolve o problema. Essa disputa pela palavra “casamento” é completamente desnecessária, mais política do que efetiva. E a adoção por pessoas do mesmo sexo só em casos muito excepcionais, como de uma mãe que já tinha um filho depois que casou com outra mulher, porque ela já é mãe, não precisa da adoção. Mas a adoção por duas pessoas do mesmo sexo eu sou contra.
• Por quê?
RM: Acho que a família (...) é porque eu acho que você não vai produzir aquilo de forma natural.
• O que é natural para o senhor?
RM: Natural é um homem e uma mulher, que têm que ter um filho. Duas pessoas do mesmo sexo não vão conseguir gerar uma criança. Essa disputa de ideologia de gênero, que você quer que uma criança de 6 anos tenha uma certidão de nascimento sem definição, para mim, é uma barbaridade. A criança nasce homem ou nasce mulher. Nasce fêmea ou nasce macho. Se depois, durante a vida, vai ser homossexual, o problema é dela, é direito dela, não tem problema nenhum. Tenho amigos homossexuais, muitos, são meus amigos, frequentam minha casa, não tenho problema com isso. Acho é que se quer encaminhar, dar naturalidade para uma coisa que, do meu ponto de vista, não é natural. É só isso. Agora, o casamento, você vai ficar brigando com as igrejas para o resto da vida. Quem ganha com isso? Talvez os políticos: de esquerda, de direita, que tão aí se… O (Jair) Bolsonaro (presidenciável de direita radical, do PSC) não cresce pela questão da segurança pública, cresce no conflito com a Maria do Rosário (PT) e o Jean Wyllys (PSOL) nos valores. O tema dos valores passou a ser muito forte. Isso tem atrapalhado o Brasil. Esse radicalismo dos que pensam de uma forma como de outra, como o caso do aborto e da direita, isso não tem ajudado o Brasil.
• O senhor sabe se os seus amigos homossexuais têm filhos?
RM: Os meus não, os meus não. Os meus amigos não.
• Deputado, antes do discurso da posse da presidência da Câmara o senhor tomou três calmantes. Como anda a sua saúde? Como anda a sua rotina? O senhor consegue, por exemplo, ir ao cinema?
RM: [risos] Não consigo, não.
• Assistir ao jogo do Botafogo?
RM: Botafogo, outro dia, eu fui. Contra o time do Uruguai no Engenhão. Mas só isso. A agenda... não tem muito tempo, né. Tenho tentado fazer exercício, já que não consigo fazer dieta. Já ajuda... mas só. Não tomo remédio, minha mulher fica querendo que eu tome... não tomo. Às vezes acordo de madrugada com muita dor de cabeça. Isso uma vez a cada 2 meses. Aí eu acordo, tomo um negócio pra dor de cabeça e durmo.
• Vi que o senhor é meio retraído ... e também o senhor já chorou em público algumas vezes. Queria saber se o senhor se acha tímido e emotivo.
RM: Sou tímido. Sou emotivo. Tímido muito, pô. Na minha primeira eleição pra falar era uma dificuldade.
• E emotivo?
RM: Sou. Bastante. Mais do que deveria. Tenho que me controlar às vezes. Eu aperto aqui o dedo às vezes assim (e aperta a ponta do polegar com a unha). Já aprendi.